Entrevista com o Tutinha 2006
Tutinha recebeu a repórter Adriana Negreiros para duas
sessões de entrevista no escritório da Jovem Pan, na avenida Paulista, em São
Paulo. Perto de completar 50 anos, em março, em seu quarto casamento (com três
filhos), ele é um vaidoso assumido: na sessão de fotos para PLAYBOY, sua maior
preocupação era esconder a barriga. Também é um workaholic assumido.

No dia da entrevista, contou que chegara ao escritório às
5 da manhã. Na falta do que fazer, jogou paciência. Agitado, bebeu café,
brincou com o celular e despachou, sem muita conversa, uma funcionária que
insistia em interromper a entrevista. Ao fim da segunda sessão, recebeu um
afago da mulher, Flávia Eluf, retribuído com um forte abraço e um tapinha de
leve no bumbum. "Não sou nada do que dizem", defendeu-se. "Sou
um puta louco, adoro falar merda." E comprova: "Você sabia que eu já
comi dez capas da PLAYBOY? O duro foi engolir os grampos".
PLAYBOY> Você é um dos homens mais temidos da
indústria fonográfica do Brasil. Por quê?
TUTINHA > Sou o mais temido, lógico. Sou assim mesmo.
Se não tocar na minha rádio, a Jovem Pan, o artista não estoura. E não sou
bonzinho. Se a música é ruim, digo para o artista: "Não vou tocar, seu
disco é uma porcaria. Tchau e não me amola".
PLAYBOY> Muita gente dizque você é Jabazeiro [que
cobra jabá].
TUTINHA > Me chamem do que quiser. Na minha rádio tem
nota fiscal, tô pouco me danando. O cara para entrar no Fantástico também paga.
Jabá é quando você faz ilegalmente na empresa. O que eu faço são acordos
comerciais.

PLAYBOY> Que tipo de acordo?
TUTINHA> Por exemplo: hoje chegam 30 artistas novos
por dia na rádio. Por que eu vou tocar? Eu seleciono dez, mas não tenho espaço
para tocar os dez. Aí eu vou nas gravadoras e para aquela que me dá alguma
vantagem eu dou preferência.
PLAYBOY> Que vantagem?
TUTINHA> Se você tem um produto novo, você paga pra lançar.
Era isso o que eu fazia. Eu tocava, mas queria alguma coisa. Promoção,
dinheiro. Ah, bota aí 100 mil reais de anúncio na rádio. Me dá um carro pra
sortear para o ouvinte. Mas hoje não tem mais isso. As gravadoras não têm mais
dinheiro. O que pode existir é o empresário fazer acordo. Ah, toca aí meu
artista e eu te dou três shows. Ou uma porcentagem da venda dos discos.
PLAYBOY> Isso não é Jabá?
TUTINHA > Não. Na Jovem Pan nunca teve jabá.
Antigamente as rádios tinham. Quando eu comecei a trabalhar, até me assustava.
A Rádio Record ficava junto com a Jovem Pan. Na época, chegava o cara da
gravadora e dava dinheiro, walkman, relógio para o radialista. Quando eu
entrei, eu pegava essas coisas para a Jovem Pan. Nas outras rádios, os donos
não estavam. Eu não tinha interesse em roubar a Jovem Pan. Queria fazer
negócio. Antes o rádio era muito amador. Então a gravadora dava uma coisa pro
cara, dava mulher.
PLAYBOY> Mulher?
TUTINHA> É, mandava o cara pro puteiro. As gravadoras
faziam qualquer coisa pra tocar a música.
PLAYBOY> Alguma artista já tentou fazer sexo com você
em troca de tocar a música na rádio?
TUTINHA > Já, mas não vou falar quem foi. Eu estava na
minha sala, entrou uma mulher com um vestido, tirou o vestido e disse: "Se
você tocar minha música..."
PLAYBOY> E a mulher estourou?
TUTINHA > Não, porque não tocou na Jovem Pan. E eu não
a comi.

PLAYBOY> Era bonita?
TUTINHA> Meia-boca. Eu até falei: "Você tem um
belo corpo, mas sua música é muito ruim".
PLAYBOY> As gravadoras já te ofereceram absurdos?
TUTINHA > Ah, tudo o que você pode imaginar.
PLAYBOY> Um harém?
TUTINHA> Não, isso não. O que eles faziam era me levar
para conhecer os artistas. Mas eu não me vendia por isso. Eles lançavam o novo
disco da Gloria Estefan e me convidavam assim: primeira classe, carro com
motorista, backstage do show em Amsterdã, junto com o presidente da Sony.
Depois um jantar fechado com a Gloria Estefan. E o cara achava que eu tinha que
tocar porque tinha tido essa moleza, né?
PLAYBOY> E tocava?
TUTINHA> Às vezes sim, às vezes não. Mas eu fiz muitas
viagens assim. Conheci quase tudo. Fiz coisas incríveis. Por exemplo, fui ver o
Michael Jackson, sentei na mesa com ele.
PLAYBOY> Você bateu papo com o Michael Jackson?
TUTINHA> Ah, aquela coisa de hello, né? Tinha 8 mil
negos lá. Era "my name's Michael, my name's Tuta". E ele me deu
aquela mão gigante, branca! Eu tinha muita mordomia. Era assim: "Quer ver
o U2? Vamos. E depois a gente vai jantar com o U2". Sempre eles fazem
isso. Depois do show, fecham um andar do hotel, convidam rádios de vários
lugares do mundo e fazem um lobby. O artista vai lá, fala oi pra todo mundo, a
gravadora distribui brindes. As gravadoras tinham dinheiro e eu acho isso
bacana, profissional.
PLAYBOY> Como eram essas festas com os artistas?
TUTINHA > Teve uma festa do Julio Iglesias na casa
dele, na República Dominicana, cheia de mulheres.
PLAYBOY> Rolava sacanagem?
TUTINHA> Nessa não rolou. Mas às vezes contratavam
putas para os radialistas. Já tive propostas desse tipo, mas não aceitei. Não
gostava disso. Gostava de primeira classe, hotel campeão, o bem-bom. Já vi
tantos shows que hoje não agüento mais ver um. E depois eu tive uma empresa de
shows, aproveitando que eu tinha a rádio.
PLAYBOY> Quais artistas a Jovem Pan estourou?
TUTINHA > Tudo. Qualquer coisa que você pensar foi a
Jovem Pan que lançou. Madonna, Lulu Santos, Titãs. A Jovem Pan fez a história
da FM. Se não tocar na Jovem Pan, tá frito. A Jovem Pan tem o poder de
formadora de opinião no Brasil inteiro. É uma referência para as rádios do
interior.
PLAYBOY> Lançou as bandas de sucesso da década de 80,
como Kid Abelha, Capital Inicial, Ira!?
TUTINHA> O Ira! não. Um ou outro não lançamos. Eu dei
uma pisada grande na bola com a Blitz. Quando ouvi a música, falei: "Não
vou tocar essa porcaria nem morto". E logo depois era a música mais tocada
no Brasil inteiro. Mas em compensação eu acertei os Mamonas Assassinas, que
ninguém tocava. Não dá pra acertar sempre. Eu também me ferrei com o Renato
Russo.
PLAYBOY> Por quê?
TUTINHA > Numa época a gente fazia o artista cantar
"Jovem Pan" no meio da melodia. Então vinha o Caetano Veloso, tinha
uma música nova, e cantava "Jovem Pan" no ritmo da música. E uma vez
veio o Renato Russo e disse: "Minha música é uma obra-prima e eu não vou
falar 'Jovem Pan'". Eu falei: "É mesmo? Então vai pro inferno, vai
tocar essa música lá na Transamérica". Eu quase bati nele.
PLAYBOY> E não tocou mesmo?
TUTINHA > Tive que tocar, a música foi um sucesso. E
depois eu fiz um show do Legião Urbana no estádio do Palmeiras, em São Paulo.
Ganhei tanto dinheiro que saí com a caixa igual à da Igreja Universal, cheia de
dinheiro. Outro com quem eu fui malcriado foi com o Zé Ramalho. Ele disse que
não ia cantar "Jovem Pan" e eu mandei ele pro inferno. Ele perguntou:
"Quem é esse moleque?". Disseram que eu era o dono. Ele veio com um
"não, peraí". E eu disse: "Peraí não, some daqui".
PLAYBOY> Com quem mais você brigou?
TUTINHA> Com o Roger, do Ultraje a Rigor. A Jovem Pan
foi a primeira a tocar aquela música deles, "quem quer dinheiro, índio
quer dinheiro", uma coisa assim. E eu combinei com o empresário de me dar
três shows. Muito bem, você quer tocar o Roger? Eu quero três shows de graça e
vou fazer promoção para a Jovem Pan. Pois ele estourou e não me deu os shows.
PLAYBOY> O que você fez?
TUTINHA> Parei de tocar. Aí o Roger foi pro Rock in
Rio e cantava: "Tutinha, filho-da-puta, Tutinha, jabazeiro". No
Maracanãzinho, no meio do show! Aí eu o processei, fomos para o tribunal e ele
me pediu desculpas, falou que não teve a intenção. Mas eu nunca mais toquei. Só
agora, 20 anos depois, depois que o Ultraje a Rigor praticamente acabou, fiquei
com pena e deixei ele tocar.
PLAYBOY> Você tinha um contrato com o empresário do
Ultraje?
TUTINHA > Como eu sabia que o artista precisava tocar
na Jovem Pan, não fazia contrato. Era uma coisa de boca. Eu vou tocar o seu
artista, você me dá o show e tchau. É assim com o Haroldo, empresário do
Capital Inicial. Eu toco, quando eu preciso ele me ajuda, quando ele precisa eu
dou comercial de graça, se eu preciso de um show, ele me dá. Mas também não
fico abusando, não vou pedir dez shows. Hoje a gente tem um relacionamento
ótimo com os empresários. Olha, você vai me dar um show da Pitty para um evento
da carteirinha de estudante Jovem Pan e eu ajudo na música nova. É assim.
Beleza, nada em contrato, tudo na boca.
PLAYBOY> Além da Blitz, que outro erro de avaliação
você cometeu?
TUTINHA > A Shakira. Existe uma dificuldade para se
tocar música em espanhol no Brasil. Não temos essa tradição. Aí a gravadora
falou assim: "Te dou 1 dólar por disco se você tocar a Shakira". Eu
falei: "Não vou tocar essa porra". Peguei o disco e joguei em casa.
Depois de uma semana eu voltei e ouvi minha filha assim, cantando: "Estoy
aquí, queriéndote". Voltei na gravadora e falei: "Aceito o
acordo".

PLAYBOY> Deu certo?
TUTINHA > A Shakira vendeu 1 milhão de discos e
fizemos 70 shows lotados. Mas ela não era nada. Eu dei um jantar na minha casa
para a Shakira e ninguém queria ir. Convidei o Rogério Fasano, o Luciano Huck,
ninguém queria ir.
PLAYBOY> E com a Pitty, qual foi a história?A Jovem
Pan não quis tocar...
TUTINHA> Porque a gravadora não quis fazer negócio. E
com uma música nova a gente tenta fazer algum tipo de promoção, pegar prêmio,
pegar coisa para o ouvinte. Eles disseram não e a gente não tocava. Mas ela
estourou tanto que tivemos que tocar. Tem horas que a gente tem que dar o braço
a torcer. Também não sou birrento. Não vou atrapalhar a Jovem Pan por vaidade.
PLAYBOY> Qual é o segredo do sucesso do Pânico na TV?
TUTINHA > É falar merda. É fazer coisas das quais os
outros tenham vergonha. Todo mundo é comprometido, politicamente correto. As
TVs são todas amarradas.
PLAYBOY> Você tem alguma participação no que a turma do
Pânico na TV ganha em publicidade?
TUTINHA> Eu sou o dono do Pânico. Então eu ganho. O
registro é meu. Fui eu que inventei, botei na rádio, fui lutar pra levar pra
televisão, fiquei batendo de porta em porta, arrumei o primeiro comercial, dei
a idéia. Depois que o programa explodiu, falei: "Não é justo que eu fique
ganhando sozinho". Então a gente é meio que uma sociedade em que todo
mundo ganha. Todo mundo tem uma participação na renda do programa.
PLAYBOY> Quanto eles ganham?
TUTINHA > Ah, não vou dizer. A Jovem Pan paga o
salário deles de rádio e a Rede TV!, de televisão. Mas estão ricos. Ganham 50
vezes mais do que ganhavam um ano atrás. E foi a Jovem Pan que deu essa
oportunidade para eles, entendeu?
PLAYBOY> Quanto é 50 vezes mais para o Ceará e o
Vesgo, por exemplo?
TUTINHA > Acho que eles ganham uns 200 mil reais por
mês, cada um, entre salário, shows e eventos. No paralelo, quem ganha mais é o
Emílio, porque é sócio do Pânico. Ele também ganha 20% de cada merchandising.

PLAYBOY> Como vocês escolhem quem vai fazer
merchandising no programa?
TUTINHA > O critério é: pagou, levou. Mas a gente
aumentou o preço e isso foi selecionando.
PLAYBOY> Como o pessoal do Pânico está lidando com a
fama?
TUTINHA> Eles estão deslumbrados. São celebridades,
não têm como evitar. Agora nós alugamos um navio e em uma semana vendemos os
250 lugares.
PLAYBOY> O sucesso subiu à cabeça deles?
TUTINHA > Subiu, mas é lógico que sobe. Veja o
Mendigo. Era um órfão da Liga das Senhoras Católicas. A minha mãe deu emprego
de office-boy pra ele. Todo ano ela dava emprego pra dois órfãos na rádio. Pois
o Mendigo agora tem uma BMW e comia a Sabrina. Eu tenho que admirar um cara
desses. O cara veio do zero e agora ganha 80 paus por mês. Como é que não vai
ficar deslumbrado? Eu acho até que dentro do deslumbre todo eles são
pé-no-chão. Mas ficam deslumbrados, óbvio.
PLAYBOY> Todos ficaram assim?
TUTINHA > Menos o Emílio. O Emílio é low profile,
mão-de-vaca. Não vai a restaurante, não compra nada. Esse vai ficar milionário.
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O bom é o Emílio Surita e esse não sai. Ele tem história com a Jovem Pan. Ele é o preocupado. Não adianta a Globo pegar o Ceará, não adianta. Eu tenho certeza de que sem o Emílio Surita eles não fazem sucesso. |
PLAYBOY> Você é que tem fama de mão-de-vaca.
TUTINHA > Eu sou administrador. Não gosto de jogar
dinheiro no lixo. Eu sou da escola de meu pai: não seguro celebridade. O Osmar
Santos era o melhor locutor da rádio. Vamos dizer, ganhava 50 mil reais. Vinha
aqui a Globo, pagava 100, ele deixava ir embora. Eu sou assim.
PLAYBOY> Você está no quarto casamento. Por que casou
tanto?
TUTINHA> Não é o quarto, agora eu estou só namorando.
Se bem que a gente mora na mesma casa. Então é casamento, né? Eu casei várias
vezes e tive várias namoradas. Eu sempre tenho alguém. Mas não fico num
casamento destruído. Pago o que tenho que pagar, arrumo outra e vou ficar com
ela.
PLAYBOY> Você completa 50 anos em 2006.
TUTINHA> É, que merda, né? Uma bosta isso. Se bem que agora
eu estou Glauco [personagem de Edson Celullari em América]. A Flávia tem 36
anos e está me transformando no Glauco. Agora conheço a marca Doc Dog, estou
usando mais jeans e tênis. Estou até me sentindo mais moço.
PLAYBOY> E essa mancha que você tem na testa, o que é?
TUTINHA> É um sinal de nascença. Mas eu odeio essa
mancha, porque aonde vou as pessoas me perguntam se eu bati a cabeça na parede.
Principalmente criança. Eu sempre digo que uma pomba passou e cagou na minha
cabeça.
PLAYBOY> Tem alguma complicação?
TUTINHA> Ela tem um tipo de raiz e eu tive dor de
cabeça. Fiz uma tomografia e foi verificado um tumor, mas não maligno. Aí eu
fui pra Boston, operei, o cara falou que eu devo ter nascido com isso e ficou
por isso mesmo. Não tirou. Só fez radioterapia pra não crescer.
PLAYBOY> Uma das histórias a seu respeito é a de que
você é durão e estressado. Você já demitiu muita gente?
TUTINHA > Já, muita gente. Teve uma pessoa que ficava
aqui na rádio e eu sempre perguntava a que horas ele chegava. E ele nunca
chegava na hora. Então resolvi mandar ele embora. Eu disse: "Você está
despedido!" E ele: "Mas eu sou ouvinte". O cara não chegava um
dia na hora, eu achava que era da promoção. Era um moleque folgado pra cacete,
sentava na mesa.
PLAYBOY> Você é o Dr. Pimpolho, o personagem criado
pelo Felipe Xavier?
TUTINHA > O Felipe Xavier é uma pessoa muito difícil,
complicada. Tudo era advogado, um saco. Aí fiz a besteira de dar um programa
pra ele às 6 horas [Selig, um programa de notícias]. O programa era horrível,
uma porcaria. Eu tirei e ele ficou com raiva. Aí ele saiu e brigou porque eu
tinha um contrato que era assim: quando ele saísse da Jovem Pan, o Homem Cueca
não podia ser feito em outro lugar durante um ano. O que é normal, já que o
programa estourou aqui. Ele ficou com raiva e fez o Dr. Pimpolho. Às vezes eu
escuto e até acho parecido, às vezes, não.

PLAYBOY> Você foi tomar satisfações com ele?
TUTINHA > Não, tô pouco me lixando. Até gosto. Hoje em
dia o Felipe é um zero à esquerda. É um burro, porque fechou a porta da maior
rádio do Brasil. Onde ele vai trabalhar, me fala?
PLAYBOY> Você tem medo de perder sua equipe para outra
emissora?
TUTINHA > Não tenho medo. Porque o bom é o Emílio e
esse não sai. Ele tem história com a Jovem Pan, trabalha aqui há 20 anos. Ele é
o preocupado. Não adianta a Globo pegar o Ceará, não adianta. O bom é o Emílio.
Os outros estão levando a vida na flauta, fazendo show, e ele tá aí. Eu tenho
certeza de que sem o Emílio eles não fazem sucesso. Se levarem o Vesgo e o
Ceará, dura pouco, como duraram pouco os caras da MTV que foram para a Globo. O
Emílio, não. Ele está aqui todo dia, até as 4 da manhã, pra editar o programa.
É um cara de caráter, o que é difícil hoje em dia, principalmente nesse meio.

PLAYBOY> A Mariana Kupfer trabalhou no Pânico na rádio
e agora é alvo das brincadeiras do programa.Qual é a história de vocês com ela?
TUTINHA > A Mariana Kupfer é um zero à esquerda. Se
achava a gostosona e por isso uma vez veio aqui pedir trabalho. A gente tinha uma
história de colocar sempre uma patricinha que servia de escada para os caras
zoarem. Ela quis fazer esse papel e por causa dele foi convidada para a Casa
dos Artistas. Por causa desse papel, lançamos um CD dela que vendeu 40 mil
discos. Quando ela voltou pro Pânico, depois da Casa, estava se achando e
começou a se sentir ofendida. Aí teve alguns pegas no programa e aceitou um
convite do Otávio Mesquita para ir pra TV. E foi sem me dizer tchau. Eu tinha
ajudado a Mariana, que não era nada. Vinha aqui me puxar o saco, me dizer que
eu era um gênio. Depois que o Pânico na TV estourou, ela voltou a me rondar.
Entrou na minha sala e disse: "Nossa, querido, que saudade". Eu odeio
falsidade. Saudade o cacete. Disse: "Tchau, vá embora, some daqui".
Se a pessoa me sacaneou, até logo.
PLAYBOY> O Pânico não exagera?
TUTINHA > Várias vezes. O cara estar no telefone e
você ir lá abaixar a calça dele não dá, né? Também odeio coisas escatológicas.
A gente faz reunião, porque eles são um bando de porras-loucas sem limites.
PLAYBOY> Como na vez em que a Sabrina Sato masturbou
um porco?
TUTINHA> Essa foi horrível, passei uma semana sem
dormir. Dei um puta esporro quando acabou o programa. Essa é uma das piores.

PLAYBOY> Você interfere no conteúdo do programa?
TUTINHA> Eu estou sempre ponderando que o excesso não
é necessário. No começo eu era super contra fazer brincadeira com anão. Eu
falei: "O que vocês querem agora? Imitar o Ratinho?" Aí eu vi que o
anão estava ganhando grana, sendo reconhecido, e mudei de opinião.
PLAYBOY> Desde quando você gosta de besteirol?
TUTINHA> Meu avô era dono da TV Record. Desde pequeno
eu vivi em televisão, comecei a trabalhar com 15 anos. Fazia a direção de um
programa infantil chamado Setinho e todo mundo ficava me instigando a fazer
sacanagem. O apresentador, que era o Durval de Souza, gostava de falar perto da
lente. Eu botava a câmera lá no fim do estúdio, o mais longe que desse, e punha
o zoom grande. Ele vinha falando perto e a cara dele ficava inteira distorcida.
Ele queria me matar, mas eu era neto do dono e sempre tinha mais uma chance.
PLAYBOY> Você tinha outras vantagens?
TUTINHA > Ah, eu fazia umas coisas como levar todos os
meus amigos para ver Perdidos no Espaço no cineminha da Record. Lotava o cinema
de amigos da escola, pedia pizza e Coca-Cola pra todo mundo. Eu fumava, bebia.
Adorava aquele ambiente de televisão. Ia no balé, era louco pelas bailarinas. E
pegava um monte delas! Era neto do dono, né?
PLAYBOY> A TV Record já foi da sua família e hoje
pertence a outros donos.O que você acha da programação atual?
TUTINHA> Uma bomba, com aqueles bispos falando. A
Record era mais divertida. Tinha umas coisas assim: uma propaganda ao vivo em
que uma garota aparecia tomando uma bebida. Os caras faziam xixi na garrafa e
ela tinha que beber, sem perder o rebolado. Eu vivi muito coisas assim porque
minha família praticamente começou com o Assis Chateaubriand a televisão no
Brasil.
PLAYBOY> E as celebridades da época, você convivia com
elas?
TUTINHA> Meu pai fazia parte da equipe A da TV Record
na época dos festivais da Jovem Guarda. E eu ia com ele para a televisão. Então
tenho fotos sentado no colo da Elis Regina e da Hebe. Eu sempre tive essa
mordomia de ficar no meio dos artistas.

PLAYBOY> Quando você começou a levar a televisão a
sério?
TUTINHA> Quando eu tinha uns 18 anos, meu pai comprou
a Jovem Pan dos ir mãos. Eu não fui logo para a rádio. Fiquei no lugar do meu
pai na Equipe A. Então dirigi o finalzinho da Família Trapo, fiz um programa
com a Hebe Camargo e a Elizete Cardoso e outro com os Secos e Molhados. A Hebe
é minha amiga até hoje. Nessa época eu comecei a levar as coisas a sério. Fiz
até novela.
PLAYBOY> Que novelas?
TUTINHA > Eu ajudei o Antunes Filho a fazer umas
novelas que não tiveram sucesso nenhum. Eu também fiz uma com o Cassiano Gabus
Mendes.

PLAYBOY> Quando você entrou na Jovem Pan?
TUTINHA > Meu pai me chamou pra montar a FM no rádio.
Já existia um conceito de FM, mas era FM de dentista, aquela rádio só musical.
A gente fez uma rádio misturada. Tocava Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, tudo.
Explodiu. A gente acertou logo de cara.
PLAYBOY> Quem eram os artistas brasileiros que tocavam
na rádio?
TUTINHA > Na época, o forte era bossa nova. Tinha
também a Elis Regina, o Jair Rodrigues, o Trio Mocotó. A rádio ia acompanhando
as tendências. Eu levei os artistas da televisão para o rádio - a Hebe Camargo,
a Cidinha Campos, o Roberto Carlos.
PLAYBOY> E os estudos?
TUTINHA > Eu já tinha largado a Faculdade de
Comunicação Social. Eu trabalhava muito, fazia a Hebe, tinha que ir ao ensaio,
depois à noite tinha que fazer o programa. Não tinha tempo para estudar e não
gostava.
PLAYBOY> Quando saíram os artistas e entraram os
locutores?
TUTINHA > A rádio Cidade, do Rio de Janeiro, foi a
primeira a pôr os locutores. Tinha locutores famosos no Rio e, quando ela
entrou, derrubou a Jovem Pan em São Paulo. Aí foi a primeira vez que eu tive
que mudar. A rádio ficou mais jovem para combater a rádio Cidade. Tirei os
caras de lá e a gente voltou à liderança. Foi aí que eu criei um personagem, o
Mike Nelson. Foi um sucesso. Só falava besteirol.
PLAYBOY> Por que inventar um nome?
TUTINHA > Eu não ia falar meu nome porque tinha
vergonha. Depois eu criei o Djalma Jorge. Eu falava "I love you,
mina", soprava no microfone. Teve um programa que eu adorei: a gente punha
efeito de abelha e passava o tempo inteiro fingindo tentar matar a abelha e não
acontecia nada. A gente quebrava o estúdio inteiro fingindo que tinha uma
abelha. Éramos uns loucos.
PLAYBOY> Essas idéias foram aproveitadas no Pânico?
TUTINHA > Tem muitas coisas. O Emílio Surita fazia a
narração do Homem Oferta. Ele falava: "E agora vamos visitar aquele
monstro, aquele assassino, na cadeia, que está preso, ele que matou a própria
mãe e comeu a perna da filha, o Homem Oferta!" Aí fingia entrar na jaula
com aquele barulho de corrente, aquela coisa horrorosa. E perguntava:
"Homem Oferta, é verdade que você comeu a sua própria mãe?" E ele
respondia: "Ventilador Arno, em duas prestações de 4,80". Puta
besteira de idiota, mas a gente cagava de rir. O jeito do Emílio falar hoje é o
mesmo do Djalma.

PLAYBOY> O contrato do Pânico com a Rede TV! termina
em 2007. Vocês vão mudar de emissora?
TUTINHA> Pretendemos procurar uma situação melhor para
o Pânico. O grande problema da Rede TV! é que não dão condições para o programa
melhorar. Botam comerciais em excesso, muito merchandising e não dão condições.
Para mandar os caras para a Copa, a gente tem que pagar.
PLAYBOY> O Vesgo e o Sílvio vão para a Copa com o
dinheiro do Pânico?
TUTINHA > É, você acha que tem cabimento? Esse é o
ponto fraco da Rede TV!. O Amilcare [dono da Rede TV!] e o Marcelo Carvalho
[presidente da emissora] estão cometendo um erro. Deveriam dar mais dinheiro
para o programa. Não dá pra ficar só indo a festas. Tem que ir pro Oscar, pra
Fórmula 1. Na Globo a gente estaria fazendo isso, né?
PLAYBOY> A TV Globo é o sonho de consumo?
TUTINHA > Não, o sonho é o filme do Pânico. A Disney e
a Fox já demonstraram interesse. A gente quer licenciar produtos, fazer teatro.
PLAYBOY> A audiência do Pânicojá chegou a 15 pontos no
Ibope, e hoje anda pelos 6. O programa está perdendo o fôlego?
TUTINHA > Urubu negro é só o que tem. Se o Pânico
continuar igual, vai ser um programa igual a qualquer outro. Você vê o Casseta
e Planeta. Ninguém mais fala dele, fala? E está lá, não está? Se o Pânico
mantém uma média de 6, 7 pontos de audiência com qualificação AB, nunca mais se
acaba. É que nem a Hebe. Mas, é óbvio, se não fizer nada de novo, dança. O
Pânico vai ter que se coçar. É que hoje, depois que estourou, a imprensa já
fica um pouco contra. No começo, quando era uma coisa fracassada, era bárbaro.
PLAYBOY> É difícil manter o vigor dos primeiros
programas?
TUTINHA > É duro porque a Rede TV! não dá recursos. É
o maior programa da emissora, o maior faturamento, levantou o prestígio. Tinham
que dar tapete vermelho pro Pânico.
PLAYBOY> Você estendia tapete vermelho para os
artistas, quando tinha a produtora? Atendia muitas exigências?
TUTINHA> Sim. Principalmente dos brasileiros.
Americano é muito profissa. Ele fala: quero 20 garrafas de água Perrier, 30
toalhas brancas, mulher. Alguns querem drogas e só. Mas brasileiro é over, quer
suíte presidencial que não pode ter o tapete marrom. O Caetano Veloso gostava de
terminar o show e ter um jantar pra ele. A gente armava, ele convidava os
amigos.
PLAYBOY> Quem pedia drogas?
TUTINHA > O Ramones. A gente alugou o hotel Maksoud,
em São Paulo, e um cara do Ramones não trouxe mala. Viajou com a roupa do corpo
e passou cinco dias com a mesma roupa. Ele entrava no quarto e pedia marijuana.
A mim dava medo. Mas essa não era minha parte, eu tinha outros sócios. Eu era
responsável pela iniciação do negócio, arrumar o artista. E eu tinha mais
facilidade de conseguir o artista porque tinha rádio. Entrava e falava com o
presidente da gravadora, falava que ia tocar o disco.
PLAYBOY> Dizem que você ganhou uma moto Kawasaki pra
divulgar o disco Faith, do George Michael.
TUTINHA > Mentira. Essa moto eu ganhei de presente do
meu pai. Ah, todo mundo fala mal de todo mundo.
PLAYBOY> A internet diminuiu o poder das rádios?
TUTINHA > Nada é mais forte do que a rádio para
música. Nem a Globo. Só rádio faz a música estourar. Você não vê o Fama? O cara
vai lá, uma puta audiência, e cadê aqueles caras?
PLAYBOY> Cadê?
TUTINHA > Não emplacam porque para isso eles têm que
fazer acordo pra tocar na Jovem Pan. Não fazem, não estouram. Nunca me
procuraram, nunca estouraram. Por exemplo, o Rouge. Fez acordo para a Jovem Pan
aparecer no programa deles do SBT. Era um acordo comercial que não envolvia
grana, mas aparições na televisão, mostrar a rádio, coisas assim. E o Rouge
explodiu. Depois não foi feito acordo com o Broz e o Broz não deu em nada. Além
da rádio, só a novela influencia. MTV é zero.
PLAYBOY> Quem são os músicos que você admira?
TUTINHA > Eu gosto de música brasileira. Bossa nova,
João Gilberto. Do Tom Jobim eu gosto pra cacete.
PLAYBOY> E da moçada nova?
TUTINHA > A música brasileira de hoje é um lixo. É uma
música que não vai fazer história. Que história vai fazer o CPM 22, me fala? O
Charlie Brown?
PLAYBOY> Por que não?
TUTINHA > Porque é uma música temporal, que combina
com a idade do moleque. A letra não é forte, não tem sentimento. "Ah, vou
fumar maconha, vou rasgar a calça, vou comer a mina, vou cuspir na cara, vou
dar o cu na esquina". É isso aí, com raras exceções, como o Rappa e o
Marcelo D2. Mas a maioria das músicas é feita por produtoras com o objetivo de
vender discos. Eu acho lamentável, mas tenho culpa nisso porque não dou
oportunidade para novos gêneros.
PLAYBOY> Esses músicos que você citou - CPM 22 e
Charlie Brown Jr. - tocam na sua rádio?
TUTINHA > Todos. Eu sou uma pessoa que não tem
opinião. Pra mim, que tenho o objetivo de ser o primeiro lugar, não adianta
saber se eu gosto. Eu tenho que saber se faz sucesso. Se eu vou ver o show de
Sandy & Junior e vejo lá o público da rádio, até penso em tocar na Jovem
Pan. Eu sou treinado para isso. Quem tem muita opinião não consegue fazer a
coisa comercial. Mas eu gosto do Charlie Brown. Só acho que é uma música que
não fica.
PLAYBOY> E quem vai fazer história?
TUTINHA > Deixa eu pensar. Gostei do primeiro disco da
Maria Rita, mas o segundo é um lixo. Pra ser sincero, eu acho esse segundo
disco da Maria Rita uma bomba. Também ela é meio boba. O que tem de melhor é a
mãe e devia regravar algumas coisas da Elis. O artista demora pra sacar que se
ele não tem uma música boa ele não estoura. Começa a achar que é bom e grava
qualquer coisa. A Maria Rita fez um disco de merda e não vai vender.
PLAYBOY> Na época do boom do axé, como era a relação
da Jovem Pan com as bandas baianas?
TUTINHA > A Jovem Pan tocou axé e a Bahia inteira
desceu aqui pra tocar.
PLAYBOY> Tocou É o Tchan?
TUTINHA > Não, mas tocamos Netinho, Ivete, Banda Eva e
Banda Mel. Depois a gente achou que a rádio caiu e podia ser o axé. É que essa
rádio é conceito, sabe? Por exemplo, a molecada gosta de samba. Mas a gente
acha que conceitualmente tocar Inimigos da HP, por exemplo, atrapalha a rádio. Então
a gente prefere tocar rock, house e música brasileira e não arriscar a
audiência.
PLAYBOY> Mesmo que os acordos comerciais sejam ótimos?
TUTINHA > Não tem acordo pra coisa que a gente não
gosta. Pode vir aqui, mandar 200 mil dólares pra tocar e a gente não toca, não
adianta.
PLAYBOY> Como vai a Bacana Records, sua nova produtora
de discos?
TUTINHA> Estamos fazendo alguns acordos com a Trama. A
Trama é uma gravadora de artistas novos, mas falta o lado comercial lá dentro.
Não adianta o cara ficar fazendo o disco do Max de Castro se não botar música
comercial. Lança 20 discos e ninguém ouve. O cara tem que ser esperto. Pode até
perverter um pouco, entendeu? O Seu Jorge, esperto, gravou Chico Buarque e
entrou.
PLAYBOY> Parece que você é muito amigo do Milton
Neves...
TUTINHA > Não sou. Nunca fui. Vamos falar a verdade?
Acho o Milton Neves de quinta categoria. Bota aí que eu meti o pau nele. Ele é
um canalha.
PLAYBOY> Mas as declarações dele sobre você são muito
elogiosas.
TUTINHA>As pessoas falsas são assim. Estão te
sacaneando por trás e falam bem de você. Profissionalmente eu o respeito e
admiro, mas ele é é um injusto. Entrou com uma ação contra a Jovem Pan depois
de ter trabalhado anos aqui.
PLAYBOY> Por quê?
TUTINHA> Por causa de nada [irritado]. Meu pai ajudou
o Milton Neves do zero. Ele deve todo o sucesso ao meu pai. E ele foi muito
sacana, entrou com uma ação trabalhista ridícula. Meu pai deu força, deu os
melhores horários pra ele trabalhar. E ele virou as costas e sacaneou meu pai. Como
vou gostar de um cara desses? Ele ganhou muito dinheiro, está muito rico, não
precisa de ação. E ele já era, vai se ferrar, porque aqui se faz, aqui se paga.
PLAYBOY> Você tem muitos inimigos?
TUTINHA > Não que eu saiba. Deve ter muita gente com
inveja de mim.
PLAYBOY> Você já se deu mal por esse seu jeitão curto
e grosso?
TUTINHA> Já. O Rubens Barrichello não ganhava nenhuma
corrida, só chegava em segundo, e eu fiz uma música assim: "Sempre atrás
do alemão. É o Rubinho!" Essa música foi um sucesso estrondoso, todo mundo
cantava. Aí eu estava em São Paulo, no Parque do Ibirapuera, e de repente vi o
Rubinho correndo na minha frente. Quando eu vi, pensei: ele vai me encher de
porrada.
PLAYBOY> E encheu mesmo?
TUTINHA > Eu virei e saí fora do Rubinho. Aí um mês
depois ele processou a gente em 100 mil dólares. Eu fiz uma besteira, que foi
pegar essa música e botar no CD da revista. O juiz se chamava Ferrari [risos].
Aí a gente se acertou, pagou o valor em obras de caridade no nome do Rubinho.
Uma outra vez eu o encontrei, falei com o Rubinho e ele me deu as costas. Puta,
fiquei com uma vergonha do cacete naquele dia.
PLAYBOY> O Luciano Huck declarou que você é ótimo, até
a hora em que pisam no seu calo. O que é pisar no seu calo?
TUTINHA > É tipo assim, o Jota Quest. O empresário
deles se chamava Chantilly e me prometeu um show em Maresias. Eu montei um
estande de verão em Maresias, no litoral de São Paulo, vendi o patrocínio. E
ele fez um show com a rádio Mix em frente ao meu estande. Por isso eu não toco
o Jota Quest.
PLAYBOY> Você teve prejuízo financeiro?
TUTINHA> E moral. Eles que se danem! Ou eles me pagam
o prejuízo que eu tive, me dão o show, ou eu não toco. Eu não sou de brigar,
mas se o cara faz show com uma rádio concorrente, então que vá pedir para
aquela rádio tocar, vá para o inferno. Agora eles estão sofrendo, porque não
tocar na Jovem Pan é muito grave, acaba com o artista. Eu tenho pena? Tenho.
Mas eles têm que me ressarcir. A Ivete Sangalo também fez parecido.
PLAYBOY> O que a Ivete fez?
TUTINHA> O Jesus, o irmão dela, se comprometeu a fazer
show comigo. Botei anúncio na rádio, no jornal, um dia ele me ligou e disse:
"Não vou fazer". Como a Ivete é muito poderosa, ela acha que pode
fazer isso. Mas um dia é da caça e outro é do caçador. Ela é um amor, apesar do
irmão, que eu odeio. A Ivete namorava o Luciano Huck, a gente ia jantar, eu
gosto dela. Mas o irmão é de quinta categoria e um dia vai prejudicar a
carreira dela. Ela que abra o olho.
PLAYBOY> Muitas pessoas já tentaram prejudicar sua
carreira?
TUTINHA > Houve uma época em que as gravadoras
quiseram acabar com essa história de dar prêmio ou dinheiro para as rádios
tocarem as músicas. Porque o negócio estava generalizado, todo mundo queria um
carro, uma viagem, uma camiseta. Então as gravadoras resolveram acabar com a
Jovem Pan, porque a Jovem Pan é a mais forte. Então eu parei de tocar as
músicas de todas as gravadoras.
PLAYBOY> E tocou o quê?
TUTINHA > Eu fiquei sócio de um amigo na gravadora
Paradoxx e só tocava essa gravadora. A rádio foi para o primeiro lugar e a
Paradoxx foi a que mais vendeu discos naquele ano. A gente tocava dance. Aí as
outras gravadoras desistiram da briga e voltaram.
PLAYBOY> Você é rico?
TUTINHA > Eu sou. Eu ganho dinheiro, sou um cara de
idéias, montei sete negócios. Tenho a Revista Jovem Pan, uma empresa de
telefonia, o portal Vírgula, a Carteira de Estudante. No ano passado vendi
quase 150 mil carteirinhas. Faço shows, faço eventos.
PLAYBOY> Quais são seus luxos?
TUTINHA > Veleiro e viagens. Trabalho 40 dias e viajo
dez.
PLAYBOY> Gosta de carros?
TUTINHA > Gosto de todos os luxos. Que homem não gosta
de carros?
PLAYBOY> Qual é o seu?
TUTINHA > Um Corolla [risos]. Mas eu tenho um BMW e um
Porsche.
PLAYBOY> Você tem algum plano para o futuro?
TUTINHA > Entrar na TV. Eu fico animado porque o
Roberto Marinho montou a Rede Globo com 60 anos. Eu sou uma pessoa ambiciosa.
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