Rosana Hermann - Daquilo que eu sei

Rosana Hermann - Daquilo que eu sei...
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Querido Leitor
16 de novembro de 2004
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Em 1987 fui contratada para trabalhar na TV Manchete, como roteirista do Osmar Santos Show. O diretor era o Nilton Travesso. O programa era chiquérrimo. Tinha até orquestra regida pelo Zé Rodix. O primeiro programa teve o então ministro Dilson Funaro e Milton Nascimento. Eu era contratada da Equipe A, do Nilton e do Joaquim, marido da Ala Szerman. Nessa época eu trabalhava na Jovem Pan FM também, áurea época das aulas de inglês, do boi na linha, etc.
Lembro que em 88, quando meu filho nasceu, eu morava numa casinha alugada caindo as pedaços, trabalhava muito e precisava comprar as recém-lançadas fraldas de papel. Eu pegava o meu cheque-fralda, meu salário inteiro do programa do Osmar Santos e comprava tudo em fraldas descartáveis.

No programa do Osmar eu conheci Yara Peres, que trabalhou anos com o Faustão no Balancê, hoje sócia da CDN, maior empresa de assessoria de imprensa do Brasil, cujos donos são nossos amigos pessoais.
Nos anos 90, por recomendação do Tutinha, Nilton Travesso me chamou para criar, escrever e dirigir o conteúdo do programa Almanaque, na Manchete. Lá, na Manchete, comecei a escrever para o Clodovil . Lembro de ter criado o nome Clodovil Abre o Jogo, as duas da manhã. Neste tempo eu escrevia num MSX, tinha um fax que minha irmã trouxe do Canadá e, na madruga, passei uma lista de nomes pro Nilton Travesso. Ele escolheu "Clodovil Abre o Jogo". E até hoje o Clodovil diz que foi criação do Eduardo Sidney.

Foi em 92, no Almanaque, que conheci o Isaac. O ex-sócio e amigo da Ala Szerman, hoje meu médico, Dr. Szama Krybus, não pode ir à uma entrevista e mandou Isaac em seu lugar. E aí... bem... e aí aconteceu tudo...O que é a vida. Foi também em 92 que passei a fazer vídeo oficialmente, no Show Business e no próprio Almanaque. Antes, na TV, eu só tinha feito quadros de humor no Vitrine.


Eu já havia trabalhado para o Clodovil em 83, foi quando entrei para a TV, a convite do Mauricio Sherman, que me 'descobriu' para a televisão. Nesta época eu trabalhava com Roberto Muylaert e Walter Longo, na Editevê, uma das primeiras produtoras de TV de São Paulo. Sherman sempre achou Clodovil um talento único para a televisão. Com Muylaert fui pra TV Cultura. Com Walter, fui para a Newcommbates , vinte anos depois, sócio do Roberto Justus, com que eu já tinha trabalhado. Tudo se cruza. 

Clodovil me tratava muito mal. Eu era jovem, inexperiente e tudo sobrava pra mim. Mas enquanto todo mundo chorava eu ficava firme, a generalíssima alemã durona. Perdia o amigo mas não perdia a piada, perdia o emprego mas não perdia a pose. Não perdi nada, na realidade. Foram bons tempos na Band.
Sherman sempre chamava Clodovil para participar como jurado no Faustão, quando ele dirigia o programa. Agora, Sherman está dirigindo o Zorra Total. Não sei se ele tem algum plano para Clodovil por lá. Na Band também trabalhei para o famoso J. Silvestre. Marlene Mattos era secretária do Sherman. Conhecemos Xuxa lá, num programa, convidada por ser namorada do Pelé. Maurício se encantou com ela. Da Band foi pra Manchete, levou Marlene, contratou Xuxa e aí começou a parceria. 

TUTINHA, que foi meu padrinho de casamento, dono da Jovem Pan FM e dono do programa Pânico, o que manda em tudo, não é mais meu amigo. Não falo mais com ele. Ele me trata mal, me despreza, não dá pra gostar ou ser amiga de alguém que humilha a gente e não tem respeito. Pena, eu sempre o admirei. Admiro ainda.
Não vejo Sherman há muitos anos, desde que ele teve um problema no coração e veio se tratar em São Paulo. Mas acho que ele fala com Clodovil de vez em quando.

Nunca mais trabalhei com Clodovil e na única tentativa de ir ao programa dele, aconteceu aquilo que você já sabe, esperei horas e o diretor me dispensou sem maiores explicações. Perdi o lugar para uma receita de pastiera di grano dando dois pontos de audiência. Eu ía levar esta foto que publiquei aqui. Fui diretora da Rede Mulher, mas depois que Clodovil tinha saído. Não cheguei a cruzar com ele lá. Não que eu me lembre.
Trabalho com comunicação, trabalho na televisão, ou para ela, há vinte e um anos, mas não sou uma artista no sentido da palavra. Não sou uma celebridade. Sou uma operária da comunicação. Olhando tudo de longe, penso só no que sei, no que já vivi, no que conheço. Falo daquilo que eu sei, como diz a canção do Ivan Lins.

E do que eu sei, eu sei que o EMÍLIO SURITA é um cara bacana. Todo mundo gosta dele. Ele também não busca a fama. Ele é super na dele. Está no ar porque depois de dez anos de Pânico, o programa passou a ter esta versão em TV. Mas ele não arde nessa fogueira de vaidades. Uma fogueira que destrói tudo, do bom senso à ética, da amizade à humanidade.
Televisão, do jeito que todos sonham, um olimpo da fama e do sucesso, é só ilusão.
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Se você quiser ler um relato sensato sobre o trabalho e a comunicação, leia a coluna do Serginho Groisman para a Revista Trip.


Fonte: Blog Querido Leitor
16 de novembro de 2004