Entrevista de Emilio Surita – 2015

Entrevista de Emilio Surita – 2015
Emílio Surita compara o 'Pânico' do rádio com o da televisão e fala sobre queda de audiência.
Entrevista de Emilio Surita – 2015
“O rádio é prazer e a TV é pressão", diz Emilio Surita.
Sem muitos holofotes, glamour, nem grandes exigências. Basta um estúdio simples, um microfone e um fone de ouvido para ele se sentir em casa. Entre um intervalo e outro do programa “Pânico” , Emilio Surita, que confessa não ser fã de entrevistas, topou conversar com o DIÁRIO.
 
Há mais de 20 anos no ar no comando do humorístico na Jovem Pan – e há 12 anos na televisão (o programa começou nas telinhas na RedeTV! e desde 2012 está na Band), o apresentador rejeita o rótulo de líder da atração e exalta o trabalho em grupo.
Entrevista de Emilio Surita – 2015
Emilio só se abre ao falar da paixão pelo rádio e dos desafios da televisão. “O rádio ainda tem um espaço para você discutir ideias, ainda é um lugar que você tem mais tempo, não tem aquela pressão maluca do Ibope.”
 
Apesar de adorar o que faz, ele não indica a carreira artística nem para os filhos. “É muito difícil. É uma profissão que você não tem plano de carreira”. Enquanto a maioria diz que o ”Pânico na Band” já não empolga mais o público como antigamente, o apresentador sai em defesa da atração: “O ‘Fantástico’, há cinco anos, dava 38 pontos de Ibope. Hoje ele dá 20. A audiência caiu em todos os canais”.
 
Emílio não fugiu do tema “Rachel Sheherazade” e amenizou a “briga” com a jornalista, conhecida por suas posições de direita e, principalmente, anti-PT. Até que para quem não gosta de ser sabatinado, ele falou bastante... 
 
DIÁRIO_ Não dá pra pensar no “Pânico” e não pensar em você, você é a cara do programa...
EMÍLIO SURITA_ Eu? Não, quem eu sou (risos). Não sou cara de nada, não me coloca nessa aí não.
 
Ah, mas você é, querendo ou não, e já está há tanto tempo na rádio e na televisão com o programa... A que credita esse sucesso?
Ah, não tem sucesso, né? Sucesso é cada semana, cada trabalho que você faz, tem uns que funcionam, outros que não. Dentro da sua carreira tem coisas que dão certo, coisas que não dão, né?
 
Mas não dá para negar isso, são muitos anos no ar, o programa tem credibilidade...
É, mas isso aí não existe na televisão. Porque na televisão, você comemora o resultado de um trabalho, sei lá, por 15 minutos. Então, por exemplo, no domingo, a gente termina o programa meia-noite, 0h15 já estamos fazendo uma reunião para outra semana. E aí a outra semana pode ser que tenha pauta legal ou que não tenha. É tudo muito rápido. Você não tem um tempo de falar: “Ah, que gostoso, que bacana”. Televisão exige muito conteúdo e hoje a molecada quer mais conteúdo ainda. Não tem moleza.
 
Você é um cara pé no chão, pelo jeito, né? Não se deslumbra com o sucesso... É um dia após o outro, correndo atrás?
Acho que é assim que funciona, acho que todo mundo pensa assim. Não existe esse sucesso que se imagina de: “Ah, eu cheguei aqui, isso aqui se chama sucesso, vou fincar minha bandeira aqui e aqui nessa bandeira ficarei”. Não tem isso. Tem de funcionar. E tem algumas coisas que você trabalha pra c.... e não funcionam, outras que você imagina que não vão funcionar e funcionam.
 
Além de apresentador, aqui na rádio você consegue expressar sua opinião. Teve até uma discussão calorosa com a Rachel Sheherazade...
 
Não teve discussão. Aquilo lá é uma sacanagem que fizeram, porque aquilo eles tiram do contexto para gerar polêmica. Foi um programa de duas horas, que a gente discutiu um tema e aí uns sites do PT, sites de esquerda, colocaram lá, para diminuir a Sheherazade e tirar a credibilidade dela: “Sheherazade é esculachada num programa de humor”. Era discussão ideológica, o que não quer dizer que eu seja um cara de esquerda e ela uma reaça de direita.
 
Ela acabou virando sua colega de rádio. Vocês se falam quando se cruzam nos corredores?
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Sim, na boa. Claro. É que não foi daquele jeito. Foi editado para que parecesse uma grande discussão.
 
E aqui na rádio, você pode falar o que pensa. É diferente da televisão?
A TV é diferente. Na TV o cara quer conteúdo. Um programa de televisão é tipo um circo. Faustão, Silvio Santos, eles são apresentadores. Eles falam: “Agora tem um leão que veio da Índia, uma galinha que bota ovos de ouro...”. Na televisão funciona assim, são as atrações. O rádio ainda tem um espaço pra você discutir ideias, ainda é um lugar que você tem mais tempo, não tem aquela pressão maluca do Ibope, minuto a minuto. Você ainda consegue trocar uma ideia e eu acho o rádio muito legal por isso, porque é um veículo de pensamento, de ideias, você tem mais tempo, sem ficar com aquela negócio de caiu um ponto, subiu um ponto. Porque a TV aberta hoje é só isso.
 
Por conta disso, você acha que o rádio te dá mais prazer?
Muito mais. O rádio é prazer e a TV é pressão. Qualquer um que faça os dois tem essa sensação.
 
E este mês os programas estão fazendo aniversário, né? Vai ter comemoração?
Com essa crise vai ter Dolly e duas coxinhas aqui embaixo do prédio da rádio, hein? (risos). Isso se tiver... (risos). 
 
O “Pânico” foi um dos precursores nesse formato. Depois vieram as inspirações. O “Encrenca” é um exemplo. O que você acha disso?
Acho legal. São radialistas, gosto muito de ver caras de rádio fazendo televisão. O rádio sempre foi um veículo meio descreditado na televisão... Quanto mais caras de rádio vão para a televisão e funciona, fico muito orgulhoso. Gosto muito do veículo rádio e das pessoas que fazem rádio, porque quando você é só de rádio, você aprende mais ou menos a fazer tudo. Então todo mundo que trabalha em rádio pensa mais ou menos em equipe. E as pessoas que fazem rádio não têm aquela frescura de: “Ah, eu sou artista, minha arte...”, eles não têm isso. É um trabalho, um grupo que está fazendo um negócio. Os próprios caras do “Encrenca” trabalhavam aqui, era tudo molecada. Acho muito bacana se eles fizeram sucesso. Torço muito para todos eles. 
 
Apesar de estar há tanto tempo no ar, o programa já não tem mais uma audiência tão forte como antes. Acha que o público cansou do “Pânico” ou é culpa do Netflix?
Não é que cansou. O “Pânico”, em alguns momentos, teve uma grande audiência. Se você pegar a média do “Pânico”, ela sempre foi essa, porque a gente trabalha com um público específico. Então, a gente tem lá, domingo, 12% de share, que é o que ele sempre deu a vida inteira. Teve um evento ou outro que o programa funcionou mais do que a média, mas hoje em dia você tem muito mais concorrência. Você tem “The Walking Dead”... Tudo isso no domingo às 22h, que é o nosso público. Então não que ele não é mais como antigamente. Por exemplo: há duas semanas, ficamos em primeiro lugar. O que acontece é que o número de audiência não é mais o mesmo. O “Fantástico”, há cinco anos, dava 38 pontos. Hoje ele dá 20. Então a audiência caiu em todos os canais. Então, se você pega o número absoluto, ele é um. O número relativo é outro. Mas quem escreve televisão não está preocupado com isso, aí publica isso.
 
Você é muito discreto em relação a sua vida pessoal...
Eu? Não. É que minha vida é tão sem graça.
 
Mas você está casado há anos com a Pepela, né? Para você, qual o segredo de um bom casamento?
Ah, sei lá... Não sei. Eu gosto dela, a gente tem uma vida legal, tem filhos. Não tenho muito o que acrescentar. Tem um monte de gente que é casado há um tempão também (risos).
 
Estou achando que você é um pouco tímido. No ar, é uma atuação ou ali você se sente mais à vontade?
Não, não é isso, é que eu não gosto de dar entrevista porque você tem de ter opinião sobre tudo. Você tem de sempre mostrar que você sabe tudo. Que nem quando você fala: “Qual o segredo do casamento?”. Não tenho a menor ideia, entendeu? (risos). Você sempre fica numa postura meio chata, porque você chega para mim e fala: “O que você acha da atual situação da Dilma?”. Eu tenho de falar alguma coisa, tenho de te responder alguma coisa e eu também não sei direito se a Dilma é bacana, se está se f.... sozinha, se é uma filha da p... E aí, quando você dá sua opinião, você vai imprimir ali: “Ah, ele está dizendo isso. O Emílio está falando assim...”.
 
Apesar de ser casado, você é um cara da midia, como lida com o assédio?
Não tem nada (risos). Não tem assédio nenhum. Eu acordo todo dia às 8h, às 9h venho para cá (rádio), saio às 21h, vou para casa, trabalho todo fim de semana. Já foi minha época, hoje meu filho que “pega”. E falando em filho, o Emilio Eric e o Eduardo estão seguindo carreira artística...Estão, dois burros, duas bestas (risos).
 
Você não os apoia?
Claro que não, né? Eu seria um debiloide...
Mas geralmente os pais torcem para os filhos seguirem o exemplo. Às vezes, até facilita por serem seus filhos... Facilita nada. É muito difícil. É uma profissão que você não tem plano de carreira. Você tem um contrato de dois anos e depois você não sabe o que vai ser, entendeu? Então, quer dizer, é uma profissão difícil que você não deseja nem para o seu pior inimigo. 
 
Mas você falou isso pra eles?
Claro, muitas vezes. Mas adianta falar para filho? Não adianta...
 
E o que você queria que eles fizessem?
Profissões milenares: médico, engenheiro... Mas o cara gosta de fazer isso. E não vejo isso como uma profissão. Hoje em dia está tudo muito diferente. Você tem de ser muito mais empreendedor, fazer o próprio negócio do que trabalhar para alguém. Sou de uma outra geração, uma outra época. Era diferente na minha época, mudou muita coisa. Mas a gente quer segurança.
 
E você hoje se sente realizado profissionalmente?
Como te falei, esse é um trabalho como qualquer outro, que pode deixar com que você se ache legal porque é um trabalho que você entra na casa dos caras. E pessoas que você nunca viu, te param na rua e falam: “Poxa, eu adoro seu trabalho, seu programa. Tira uma foto comigo. Manda um alô para minha mãe, pra minha filha”. Mas você tem uma televisão que é de graça. Você entra na casa de todo mundo, então é natural que tenha muita gente na rua que venha falar do seu trabalho. Você não pode achar que aquilo é você. Aquilo é o veiculo que você trabalha e você é só mais um cara que está lá fazendo aquilo. Se você não estiver lá, outro cara vai ocupar o lugar. Então, não vejo esse glamour, aquela pessoa é pública, de televisão... É um trabalho.
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