Entrevista com Emilio Surita - 2014

Entrevista com Emilio Surita - 2014 - Jornal O Dia
Nem sempre o ofendido tem razão', dispara Emílio Surita, líder do 'Pânico'.
Há 11 anos no comando do humorístico, Emílio Surita revela histórias de bastidores e comenta saída de Sabrina Sato.

Com uma hora de antecedência, Emílio Surita chega ao estúdio da rádio Jovem Pan para apresentar o programa “Pânico”. Simpático, aparece já fazendo brincadeiras e até interrompe uma reunião de pauta de outra atração para ironizar os colega.

É nesse ambiente que o apresentador recebe a reportagem do iG. À vontade, senta-se a uma das bancadas do estúdio, conta como nasceu o “Pânico na TV”, como lida com as polêmicas em torno dos quadros do programa e fala sobre os ex-integrantes do grupo.

Peça fundamental para a criação do “Pânico”, Emílio relembra o início do programa ainda na rádio. Iniciado em 1993, pretendia ter a mesma linha do “Programa Livre”, de Serginho Groisman. A produção escolhia um tema para debater com os ouvintes, porém eles “não se aprofundavam” e ligavam apenas em busca de brindes. “A gente começou a ser meio agressivo com esses ouvintes. Viramos meio que 'anti-locutores' de rádio. Passou a ser uma coisa de tratar o ouvinte como se ele fosse um amigo”, relembra.

Foram dez anos até Tutinha (CEO da Jovem Pan) levar o programa para a televisão. O elenco gravou um piloto e ofereceu para algumas emissoras. “No começo, a gente não sabia direito o que ia fazer”, revela Surita, que viu surgir a oportunidade quando a RedeTV! ofereceu o horário das 18h30 aos domingos, “um dia muito disputado”.

Inicialmente, a ideia era brincar com os artistas convidados da atração. "Só que esses caras só iam no Faustão e no Gugu, eles não iam a outro programa. A gente não tinha artista”, conta. A saída para o problema foi mandar o iniciante Repórter Vesgo, com 20 anos na época, para a porta das festas. “Eu falei: ‘você vai ser um Amaury Junior maluco’”.

Sucesso e processos
A iniciativa foi um sucesso, mas o programa, com outros quadros bem-sucedidos, não tem um único responsável pelas novidades que emplacam. “O ‘Pânico’ é democrático porque é uma criação coletiva. Todo mundo participa. É diferente o jeito de fazer do ‘Pânico’ comparado aos outros programas. É bem mais bagunçado”, define.

Surita entende que “é o próprio público que determina o que funciona e o que não funciona” na TV. “Você sabe que está dando repercussão porque você sai, a pessoa comenta, fala, um cara te processa, isso tudo faz parte. Você incomoda o cara, sai na mídia e pensa: ‘Estou incomodando alguém. Estou fazendo o meu papel’”.

Armações
Como um humorístico que faz de tudo, o “Pânico” não poupa nem o próprio elenco das pegadinhas, o que acaba gerando especulações sobre a veracidade das brincadeiras. “Não existe armação no ‘Pânico’. Às vezes nem eu sei o que eles estão pensando em fazer. A gente faz muito mais para a gente do que para o público. Então, não tem graça se você combinar um negócio só para ser um show de televisão”, garante.

Surita, no entanto, admite não ter problema em ser “como palhaço de circo” quando passa o programa inteiro anunciando um evento bombástico que não chega a acontecer, só para segurar a audiência.

Competição e brigas na TV
O fato do programa ser “aberto” permitiu que personagens inusitados ganhassem espaço e fama no humorístico. “No ‘Pânico’ entra pessoa da rua, faxineira... No início, uma das atrações era o motorista do programa. Ele sempre foi assim, desde a época da rádio. Sempre teve esse perfil de dar espaço”. Esse elenco diversificado também pode ser um problema.

“É natural (existirem desentendimentos). Em televisão tem muita competição entre um e outro. Se é legal a gente capitaliza para o programa, se está na porrada a gente tenta apaziguar”, confidencia.

Limites, ofensas e exagero
Surita acredita que o humor está diferente e precisa de cuidados. “Hoje em dia mudou um pouco o jeito de fazer o programa porque tem rede social, Facebook. Você tem um retorno daquilo lá, então vai ficando mais careta. Hoje em dia o humor vai para um lado mais c*zão porque você fica com uma preocupação de como está o retorno. Mas é algo que você tem que driblar também”, pontua.

“O humorista vive na corda bamba. Ele tem que saber, não é nem até onde ir, é como consegue driblar essas imposições da sociedade, das pessoas e até mesmo o que a censura te impõe”.

“Eu não sei se (o ‘Pânico’) exagera. O que é exagerar? É o tempo que você faz humor. Se você pegar hoje os ‘Trapalhões’ de 30 anos atrás tinha piada de negro com o Mussum. Eram piadas que se você faz hoje em dia todo mundo vai ficar horrorizado. É o jeito que a sociedade convive naquele determinado momento que uma piada é aceita ou não”.

As piadas do programa com famosos já foram até parar na Justiça. “Não é o ofendido que sempre tem razão. Você se sentiu ofendido? O que eu vou fazer? Meu papel é fazer rir, fazer graça. Acaba acontecendo, o cara conta uma piada e pode deixar alguém mais constrangido. Não tem jeito”.

Ex-integrantes
Muitos integrantes já passaram pelo programa, uns saíram com um bom relacionamento, outros nem tanto, mas para o apresentador, todos deixaram saudades.

“O ‘Pânico’ é feito por uma galera que tem os mesmos interesses. Então você acaba se envolvendo até na vida da pessoa, acaba virando meio amigo. A gente sente saudade de um, de outro, mas também tem que ser profissional. Saudade eu tenho de todo mundo que passou por lá”.
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